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Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães da Palma Carlos, nascida em Lisboa em 8 de Agosto de 1904 e filha única de Alice Pereira Guimarães e de Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães (militar e republicano convicto), herdou de seu pai o mesmo espírito entusiasta e combativo. Ou seja, desde muito cedo demonstrou interesse pelas conversas de foro político bem como, pela defesa dos direitos das mulheres. Por essa razão, Afonso Costa denominou-a como sendo a “mulher do futuro” .Acreditando sempre na capacidade intelectual das mulheres e na necessidade de lutar pela igualdade de direitos e oportunidades entre ambos os sexos, realizou os seus primeiros estudos em casa, frequentou os Liceus Almeida Garrett e Passos Manuel e, em 25 de Novembro de 1926, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, com a classificação de 18 valores. A sua entrada oficial no movimento feminista, esteve manifestamente relacionado com um artigo publicado, em 1925, enquanto estudante universitária no jornal intitulado Vida Académica. Basicamente, contestava a publicação de O Terceiro Sexo de Júlio Dantas pelo facto deste referir-se, sarcasticamente, ás mulheres que estudavam e pensavam. Esta ousadia permitiu-lhe o ingresso no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP) a convite de Adelaide Cabete, posteriormente desempenhou as funções de Secretária – Geral (1927), Vice - Presidente da Direcção (1928 – 1929, 1931) e Vice – Presidente da Assembleia Geral (1946). Em 1928, juntamente com Angélica Lopes Porto e Sara Leitão, elaboraram um plano de conferências feministas e, com Maria Amélia Matos e Tetralda Teixeira de Lemos, efectuaram uma revisão dos Estatutos. Contudo, era nas questões relacionadas com a sua formação académica: legislação, sufrágio, jurídica e de propaganda que Elina dava cartas, daí ter-lhe sido atribuído um voto de louvor pelo seu brilhante artigo que publicou no jornal O Rebate, onde criticava a lei eleitoral que não reconhecia o direito de voto à mulher. Para além disso, apresentou teses como: “A protecção à mulher trabalhadora” e “Da situação da mulher profissional no casamento” porque não somente defendia a participação política da mulher como forma de intervenção na sociedade, como exigia o direito a uma educação igualitária como forma de assegurar a mesma preparação profissional e a mesma liberdade de trabalho que ao sexo oposto.Sendo que a educação e a protecção à infância é outra das causas defendidas, aderiu aos protestos junto do Ministro da Instrução, contra a supressão da coeducação no ensino primário e reivindicou pela educação cívica e moral, demonstrando um pouco o seu lado maternalista, “(...) é necessário que as mulheres da nossa terra mais do que nunca se consagrem a essa obra tão linda e de tão vasto alcance que é a protecção à infância”.Posteriormente, devido à partida de Adelaide Cabete para Angola, assumiu a direcção da revista Alma Feminina, entre 1929 e 1930 e também foi responsável pela “Página Feminista” na revista Portugal Feminino, onde sintetiza o pensamento e acção feministas.Ao aperceber-se do poder que tinha a imprensa, começou a redigir artigos de carácter educativo, feminista e jurídico, procurando esclarecer os equívocos conceptuais associados ao feminismo com o objectivo de desmistificá-lo (“O princípio básico do feminismo é a igualdade, ou antes, a equivalência moral, intelectual e social dos dois sexos (...)”, “(...) sustenta o valor da mulher como ser humano e (...) pretende melhorar a sua situação social de forma a garantir-lhe o pleno desenvolvimento da sua personalidade e o pleno exercício da mesma”. ) e divulgar a problemática da condição feminina e os direitos das mulheres, isto porque enquanto feminista, e citando as suas palavras, sabia da necessidade de “captar os pensamentos e anseios da mulher comum”. Ou seja, chamá-las à razão para que não se deixassem intimidar pelos homens e serem capazes de lutar, com igual garra pelos seus interesses.Apesar de ter consciência plena de que em Portugal, ao contrário do que se passava no estrangeiro, o sentido do feminismo ainda não era socialmente aceite, inspirada pelas Associações Internacionais Feministas que dá a conhecer, não se deixa abalar e é peremptória ao afirmar: “(...) espero vir a convencer aquelas que me lerem que o feminismo, longe de ser uma aberração subversiva, é uma doutrina altamente moralizadora e altruísta, que só visa a elevar a mulher tornando-a assim mais apta a contribuir para a felicidade humana”. Elina através da sua escrita teve um papel dinamizador e preponderante na difusão dos ideais feministas e poder-se-á de facto caracterizá-la como “a mulher do futuro” porque lutou pelas suas convicções de forma aguerrida e entusiasta.
(fonte Net)
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