"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

21 de novembro de 2009

CANÇÃO DA PLENITUDE (LYA LUFT)


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente,
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura agrandada pelos anos
e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar
é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força, que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés, mesmo se fogem, retornam,
e cujas correntes ocultas não levam destroços,
mas o sonho interminável das sereias.
Texto de Lya Luft

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