"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

23 de setembro de 2007

SOMOS CARENTES (SILVANA MARTANI)



Carentes de afeto, atenção, compreensão, carinho, consideração, respeito, amigos, romance, sexo, emoções, dinheiro, prestigio, enfim tudo o que nos compõe. Ser carente não é de fato o nosso maior problema, pois aprendemos a suportar e conviver com nossas necessidades, mas o que fazemos com essa carência é que nos revela.

Muitos usam a carência como escudo, defesa, doença, solução, desculpa; outros convivem silenciosamente com suas necessidades exorcizando seus efeitos no trabalho, nas amizades ou no lazer.

Os relacionamentos não estão imunes às carências. Podemos estar acompanhados e sentir falta da atenção, do carinho, do respeito do outro, além do próprio afeto.

Gostar não é suficiente para se viver um grande amor. E não estamos falando de um único e grande amor, aquele idealizado e sonhado na adolescência, que nunca sai da cabeça ou do filme, mas daquele relacionamento verdadeiro, intenso e cheio de boas recordações.

O gostar, a paixão e o desejo fazem parte da engrenagem que movimenta toda nossa possibilidade de ser e amar. Os relacionamentos, infelizmente, não são à prova de descasos, mentiras, maus-tratos e desrespeitos, pois se constroem a partir da personalidade e dos recursos emocionais das pessoas. O amor nos denuncia.

Os relacionamentos partem de possibilidades que começam muito antes das pessoas se procurarem e se acharem. Somente estamos prontos para um relacionamento duradouro, quando a relação que temos conosco se equilibra, ou seja, quando nos conhecemos: sabemos e respeitamos nossos limites, respeitamos e negociamos com nossas vontades, reconhecemos e toleramos nossos defeitos e valorizamos e aprimoramos nossas qualidades.

O processo de autoconhecimento parte de uma necessidade de sermos melhores, de vivermos mais felizes e tranqüilos com a nossa existência. Parar de idealizar os relacionamentos e seus desdobramentos é um bom caminho para superar nossas carências e suas dores. Com o olhar mais humano nos aproximamos do possível ordenando as expectativas e os sonhos.

Somos responsáveis por nossas decisões e não se pode esquecer de que tudo foi escolhido, de uma forma ou de outra, que tudo foi desejado, encaminhado, conscientemente ou não. Nossa luta diária é para dar um lindo colorido a nossa vida mesmo que, a príncípio, essa felicidade não esteja tão visível.

*Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo - CRP06/16669

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