"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

21 de fevereiro de 2012

ANNA ANDREIEVNA AKHMATOVA (OU ANNA GORENKO)

Anna Akhmátova (Ana Andréevna Gorenko), nasceu em 1889, na Ucrânia, (em Bolchói Fontán, um elegante subúrbio de Odessa), terceira de cinco filhos. Em 1890 a família mudou se para Pávlovsk (então Tsárkoie Seló), perto de Petersburgo, e passava os verões no Mar Negro. No Verão de 1903, Anna conheceu o jovem poeta Nicolai Gumilióv. Em 1905, após a separação dos pais de Anna, o pai (Andréi Gorenko, engenheiro naval), mudou se para Petersburgo e a mãe (Ina Gorenko) levou os filhos para Evpatoria, no Mar Negro. No Inverno do mesmo ano, Anna Gorenko começou a escrever poesia, adoptando o nome da avó materna, Akhmátova. Em 1906, Gumilióv publicou um dos seus poemas na ?Sirius?, uma pequena revista literária fundada por ele em Paris. Em 1907, Anna Akhmátova inscreveu se na Faculdade de Direito de Kiev. Transferiu se mais tarde para Petersburgo, onde foi estudar Literatura e História. Em 1910, Gumilióv mostrou a Anna Akhmátova o manuscrito “A arca de cipreste”, (com a qual Anna ficou profundamente comovida e impressionada) uma colectânea de poemas líricos de Innokenti Annenski, estudioso dos clássicos e director do liceu de Tsárkoie Seló. No mesmo ano, Akhmátova e Gumilióv casaram se, perto de Kiev. Nenhum membro da família dela esteve presente. Mais tarde, Akhmátova e Gumilióv instalaram se em Tsárkoie Seló. Poucos meses depois, Gumilióv viajou para a Abissínia (actual Etiópia) numa expedição científica, retornando em 1911. Nesse ano, o casal visitou Paris mais uma vez, onde Akhmátova conheceu Modigliani. De volta a Tsárkoie Seló, Akhmátova e Gumilióv passaram a desfrutar a vida literária. Gumilióv e outros jovens poetas fundavam uma Associação de Poetas, cujos membros, originalmente quinze, decidiram romper com o simbolismo. Em pouco tempo, seis deles – Gumilióv, Akhmátova, Mandelstam, Gorodetski, Narbut e Zenkevich – passavam a se autodenominar acmeístas, termo proposto por Gumilióv. Em 1912, Akhmátova publicou a sua primeira colectânea de poesia “Entardecer”. Viajaram para a Suíça e para a Itália, e em Outubro, nascia o filho do casal, Lev Nicolaievich. Na Primavera de 1913, Gumilióv partiu mais uma vez para África como director duma expedição financiada pela Academia de Ciências. Em 1914, Akhmátova publicou a sua segunda colectânea de poesia “Rosário”. O livro alcançou grande sucesso popular.
Em Agosto eclodia a Primeira Guerra Mundial e Gumilióv alistou se como voluntário e foi mandado para a frente de batalha. Em 1915, morreu em Petersburgo o pai de Akhmátova e esta passou algum tempo num sanatório perto de Helsinque, com tuberculose. No ano seguinte, Akhmátova conheceu o artista Boris Anrep por intermédio de Nicolai Nedobrovo, crítico de arte e amigo de ambos. Muitos dos poemas do terceiro volume de Akhmátova, “Rebanho branco”, são dedicados a Anrep. Akhmátova passou o inverno no Sul, perto de Sebastopol, devido à sua doença. Em Fevereiro de 1917, Akhmátova e Gumilióv separaram se. Explodia a Revolução e estabelecia se o governo provisório de Kerenski. Akhmátova ficou com uns amigos em Petersburgo (Petrogrado durante a Primeira Guerra e mais tarde renomeada como Leningrado).
Em Outubro Lenin e os bolcheviques tomaram o poder e nesse Inverno Akhmátova publicou o terceiro livro de poemas “Rebanho branco”. No Outono de 1918, Akhmátova casou com Vladímir Chileiko, um assiriologista. Logo depois foram viver para Fontánni Dom (Casa da Fontanka). Foi um tempo de privações, frio e fome.
Em 1919, com o início da guerra civil, os bolcheviques perseguiam os opositores do novo regime soviético. No ano seguinte, Akhmátova empregou se como bibliotecária no Instituto de Agronomia. Em 1921 separou se de Chileiko. Nesta altura, a guerra civil tinha terminado, mas a inquietação social continuava. Em 1921 morria Aleksandr Blok, o principal poeta simbolista. E no mesmo ano, Gumilióv foi executado sob a acusação de ter tomado parte numa conspiração contra o novo regime. Akhmátova publicou nesse ano “Capim”, o seu quarto livro de poemas.
E em 1922, “Anno Domini MCMXXI”, o quinto livro de poemas. Maiakóvski, o principal poeta futurista, denunciou publicamente a poesia de Akhmátova ao passo que Chukovski, numa conferência intitulada ?Duas Rússias?, confrontou a poesia futurista de Maiakóvski com a poesia pré revolucionária de Akhmátova. Embora ele visse um lugar para ambos na literatura russa, as autoridades pensavam cada vez mais de modo diferente. Em 1924 morreu Lenin e emergiu Stalin, que veio a solidificar o seu poder no final da década. Nesse verão, Akhmátova retomou a amizade com Óssip Mandelstam e conheceu Nadejda Mandelstam. Na Primavera de 1925, Nadejda Mandelstam e Akhmátova, ambas com tuberculose, ficaram juntas numa clínica em Tsárkoie Seló. Trinta e dois dos poemas de Akhmátova apareceram numa antologia (os últimos publicados na União Soviética até 1940, embora os seus livros anteriores tenham continuado a ser reimpressos por refugiados políticos). Em 1926, Akhmátova passou a morar no apartamento de Nicolai Punin, historiador e crítico de arte, na Casa da Fontanka. Lá moravam também a esposa dele, Ana Arens, médica, e a filha do casal, Irina. Akhmátova iniciava então o seu estudo crítico de Púchkin.
Entre 1929 e 1933, uma resistência camponesa foi castigada com execuções, deportações e privações deliberadas. Morreram milhões de pessoas. Entretando, em 1930, Maiakóvski suicidou se. E em 1932, foi criada a Criação da União dos Escritores Soviéticos, sob rígido controle do Partido Comunista. Em Maio de 1934, Óssip Mandelstam foi preso e a sua família foi para o exílio em Cherdyn. Akhmátova arrecadava dinheiro para eles entre os amigos. Em Dezembro era assassinado Serguéi Kirov, oficial do Partido. Foram feitas prisões em massa, entre elas a do jovem Lev Gumilióv, que acabou sendo libertado. O terror intensificou se. Em 1935, Punin e Lev Gumilióv foram presos e soltos em seguida. Em 1936, Akhmátova publicou o ensaio “O Adolfo de Benjamin Constant e a 'Criação’ de Púchkin” e visitou os Mandelstams em Vorôniej. No auge do terror, em 1937, milhões de pessoas foram detidas e enviadas para campos de concentração. E em Março de 1938, Lev Gumilióv foi preso mais uma vez, ficando detido em Leningrado e solto dezassete meses mais tarde. Em Maio, Mandelstam foi novamente preso e morreu, em Dezembro do mesmo ano, num campo de concentração. Em 1935 apareceu o ciclo poético Réquiem, que se estendeu até ao ano de 1940. Em 1939, Marina Tzvietáieva, que emigrara para Paris em 1922, voltou para a União Soviética. E Akhmátova e Tzvietáieva encontraram se pela primeira vez em 1940. A proibição da poesia de Akhmátova, em vigor desde 1925, foi suspensa. No verão desse ano, Akhmátova publicava “De seis livros” uma selecção dos primeiros livros e alguns poemas novos. No Outono, a antologia foi recolhida das livrarias e as vendas proibidas. Em Outubro, Akhmátova sofreu o seu primeiro ataque cardíaco. Em Junho de 1941 a Alemanha invadiu a União Soviética e em Agosto, Tzvietáieva suicidou se, após o fuzilamento do marido e da prisão da filha num campo de concentração.
Em Setembro, Akhmátova fez um pronunciamento no rádio dirigido às mulheres de Leningrado, então sitiada, encorajando as. Em Outubro, por determinação do Comité Central do Partido Comunista de Leningrado, Akhmátova foi expulsa para Moscovo. Akhmátova tomou então o seu próprio rumo e foi para Tachkent, uma cidade no Usbequistão. Conseguiu uma casa para morar e recebeu a permissão para que Nadejda Mandelstam e a mãe morassem na mesma casa. De 1942 a 1944, Akhmátova fez leituras de poemas em hospitais. Contraiu tifo e, depois de curada, tentou voltar para Leningrado. Em 1943, foi publicado em Tachkent, “Poemas selectos”, uma edição rigorosamente censurada. No ano seguinte, Akhmátova voou de Tachkent para Moscovo, onde fez um recital de poesias no auditório do Museu Politécnico. A ovação do público, de pé, fê la temer possíveis represálias políticas.
Mais tarde, foi para Leninegrado. Em 1945, vitória sobre a Alemanha. Lev Gumilióv, que fora libertado do exílio para lutar na guerra, juntou se a Akhmátova na Casa da Fontanka. No Outono, Akhmátova encontrou se com Isaiah Berlin, primeiro secretário da embaixada britânica em Moscovo. A visita, uma longa e estimulante troca de ideias, teve repercussões... Depois da segunda visita de Berlin, em 5 de janeiro de 1946, Akhmátova, que estava sendo vigiada desde o seu regresso a Leningrado, percebeu no seu quarto, a presença de microfones. Em 1946 foi publicado em Moscovo, igualmente censurado, “Poemas selectos”. O Comité Central do Partido Comunista censurou a revista Zvezda (Estrela) e fechou a revista “Leningrado” por terem publicado os trabalhos de Akhmátova e de Mikhail Zoshchenko. O decreto expurgando Akhmátova e Zoshchenko por ?envenenar as mentes da juventude soviética? foi redigido por Andréi Jdanov, o ?cão de guarda? cultural de Stalin. Decretos similares, atingindo o cinema e a música, seguiram se a esse. Akhmátova publicou ainda nesse ano, ?Poemas 1909 1945?. Punin foi preso em 30 de Setembro de 1949 e a 6 de Novembro, Lev Gumilióv foi mais uma vez detido, ficando preso até 1956. Para Akhmátova, a causa da prisão estaria no seu encontro com Berlin em 1945. Em 1950, Akhmátova publicou “Em louvor da paz”, um ciclo de poemas propagandísticos, na esperança de ajudar o filho. Rogou que fossem omitidos das suas obras completas. Em 1952, forçada a deixar a Casa da Fontanka, Akhmátova mudou se para um apartamento em Krasnaia Konitsa com membros da família Punin. No ano seguinte, Punin morreu num campo de prisioneiros na Sibéria. Em Março, morreu Stalin. Em Maio de 1955, Akhmátova recebeu uma pequena “dacha” em Komarovo, um vilarejo perto de Leninegrado.
Em Fevereiro de 1956, o “discurso secreto” de Kruchóv sobre Stalin, no XX Congresso do Partido, inaugurou um descongelamento geral e uma “reabilitação” de intelectuais em desgraça. Lev Gumilióv foi libertado.
Em Outubro, as insurreições na Hungria e na Polónia punham um fim à tendência liberalizante. Em 1958, foi publicado (severamente censurado) “Poemas” de Akhmátova, obra que também continha traduções de várias línguas orientais. Boris Pasternak foi forçado a recusar o Prémio Nobel pelo romance “Doutor Jivago”. Em 1960 morreu Pasternak. Em 1961, foi publicado mais um livro censurado de Akhmátova, ?Poemas 1909 1960?. Em 1963, foi publicado ?Réquiem? na cidade de Munique. Em 1964, Akhmátova foi agraciada com um prémio literário italiano e no mesmo ano viajou para Taormina. Em 1965, Akhmátova foi a Inglaterra receber o título "honoris causa” da Universidade de Oxford. Reviu velhos amigos que tinham emigrado para Londres, Paris e Estados Unidos. Publicou “O vôo do tempo”, uma colectânea já menos censurada.
Em 1966, Akhmátova morreu numa casa de convalescência perto de Moscovo e foi enterrada em Komarovo.(fonte Net)

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