"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

31 de julho de 2011

ADALGIA RODRIGUES CAVALCANTI


Adalgia Rodrigues Cavalcanti
Por: Semira Adler Vainsencher.
Filha de pequenos proprietários de terra, Adalgisa Rodrigues Cavalcanti nasceu em Glicério, Estado de Pernambuco, no dia 28 de julho de 1907. Perdeu a mãe, aos onze meses de idade, e foi adotada por seus tios. O tio trabalhava como agricultor, criador e funcionário público. Igualmente à esposa, era ateu e ativista político, simpatizando, sempre, com a Oposição ao Governo, muito embora, de maneira velada.
Adalgisa veio morar no Recife e casou bem jovem, aos quinze anos (em 1922), mas, não teve filhos. Trabalhou como empregada doméstica, como vendedora - em uma loja de rádios e fogões – e foi, também, representante comercial.
Na década de 1930, Adalgisa teve os primeiros contatos com a literatura marxista disponível na época. Como só havia cursado os quatro primeiros anos do ensino fundamental, os textos eram de difícil compreensão. Porém, neste sentido, ela foi auxiliada por um professor, que era seu amigo. Apoiou o Movimento da Aliança Liberal, que se sobressaía através do carismático capitão Luís Carlos Prestes.
Em 1934, após ter tirado seu título de eleitora, iniciou sua militância partidária filiando-se ao "Socorro Vermelho", um segmento do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que tinha como objetivo dar assistência moral, material e jurídica aos presos políticos.
Após o levante comunista de 1935, participou da comissão de solidariedade aos presos políticos. Foi presa, em 1936, perseguida por suas idéias, e ficou confinada, durante quatro meses, na Colônia Penal do Bom Pastor. Quando saiu da prisão, viveu na clandestinidade, até o momento em que o Partido Comunista Brasileiro foi legalizado. Em 1945, com o fim do Estado Novo e filiada ao PCB, integrou a Célula 13 de Maio. Recebeu educação complementar, como parte das obrigações no Partido. E, junto com a escritora Neuza de Góes e a Sra. Edith Coutinho, criou o "Comitê de Mulheres pela Democracia".
Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, candidatou-se à Assembléia Legislativa do Estado, tendo sido eleita a primeira mulher deputada estadual de Pernambuco. Foi, ainda, a quinta mais votada pelo seu Partido. Teve 2.298 votos, a maioria da classe operária, superando, assim, vários candidatos de outros partidos influentes.
Depois de eleita, assumiu a presidência da Comissão de Leis, na Assembléia. Um dos seus projetos, visando atender à população feminina, propunha a concessão de um abono família, por parte do Estado, às mães que exerciam algum cargo público. Tal benefício, até então, era extensivo, apenas, aos homens.
Em 1947, porém, Adalgisa teve a carreira política interrompida: o registro do PCB foi cassado pelo Supremo Tribunal Federal. Em 14 de janeiro de 1948, face ao Artigo 2º, da Lei Federal, nº 211, os senadores, deputados e vereadores, eleitos pelo PCB, perderam seus mandatos, todos os membros do Partido foram cassados, assim como os suplentes eleitos sob a mesma legenda. A partir daí, todos foram obrigados a entrar na clandestinidade.
Nos difíceis anos após tal cassação, os comunistas iniciaram um amplo movimento social contra a carestia e pela paz, e Adalgisa dele participou. Ela foi presa e humilhada, ao todo, vinte vezes, sempre por questões políticas. Em nenhuma dessas prisões sofreu tortura ou espancamento, como acontecia com outros membros do Partido, mas, somente, "provocações e ofensas morais", às quais respondia à altura, como salientou.
Quando a Ditadura Militar se instaurou no país, em 1964, Adalgisa foi julgada e condenada a um ano de prisão, fruto de um inquérito "nojento, mentiroso e fraudulento", segundo ela própria afirmou. Sentindo-se injustiçada, conseguiu fugir, mas, nove meses depois, quando voltava para casa para rever o marido e a filha adotiva, foi presa.
Nas últimas décadas de sua longa vida, ela decidiu não mais participar das lutas políticas partidárias. Adalgisa Rodrigues Cavalcanti faleceu no Recife, no dia 26 de abril de 1998, com mais de 90 anos de idade, em conseqüência de uma isquemia cerebral, sendo velada na Assembléia Legislativa. Lá, recebeu várias homenagens de mulheres que se destacavam na política nacional.
O velório, no Cemitério de Santo Amaro, onde foi enterrada, foi bastante solitário. Nele compareceram, apenas, três sobrinhos e duas senhoras amigas. Cobria o seu caixão, a bandeira do Partido Comunista Brasileiro.
Como homenagem derradeira, a Assembléia Legislativa de Pernambuco concedeu o reembolso das despesas do funeral de uma de suas mais famosas representantes.
Fonte: http://200.238.107.80/web/secretaria-da-mulher/mulher1

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