"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

4 de setembro de 2011

MULHERES QUE MUDAM O MUNDO

Em 6.000 anos de história, jamais as mulheres estiveram melhor do que estão hoje, no mercado executivo. É o que pensa o professor Júlio Lobos, presidente do Instituto da Qualidade, ex-professor da Fundação Getúlio Vargas e autor de vários livros sobre gestão. A um primeiro olhar, parece uma assertiva que vai na contra-mão do que outras pesquisas estão revelando. É o caso de um estudo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, feito em parceria com a Organização Internacional, a Fundação Getúlio Vargas, o Ipea e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. O estudo analisa o perfil social, racial e de gênero das diretorias das grandes empresas brasileiras e tem, como principais conclusões, que esta é uma classe empresarial masculina, branca, madura, acadêmica, comprometida com a empresa e profissionalizada. Mas Lobos tem argumentos para justificar sua opinião. "Há cerca de 20 anos, quando lecionava na Fundação Getúlio Vargas, eu já me espantava de ver que mais de 50% dos alunos de Administração de Empresas eram mulheres. E elas não estavam lá porque o marido tinha perdido o emprego e por essa razão precisavam buscar o mercado de trabalho. Não era assim. Elas estavam estudando porque queriam ingressar no mercado de trabalho como profissionais independentes." Movido por esta constatação, Júlio Lobos formulou uma pesquisa que tinha como objetivo, como ele mesmo diz, saber como a mulher passou de serviçal a CEO (20% das 118 mulheres entrevistadas para a pesquisa - entre elas a vice-presidente executiva do Grupo Catho, Silvana Case - ocupam posições de diretora executiva ou equivalente em suas organizações). Mantida em regime de submissão ao homem, como a mulher conseguira gradativamente ocupar espaços antes exclusivamente masculinos? "Apesar de as mulheres serem maioria nas escolas de Administração de Empresas, pouquíssimas ocupam posição de comando. Algo as impede, e não é apenas a gravidez ou a força da gravidade", raciocina o professor. "Se isto não for um problema para as mulheres, hoje, e para a sociedade, em qualquer tempo, então teríamos que redefinir o conceito de problema." Preocupado em não produzir questionamentos tendenciosos, o professor Lobos optou, na pesquisa, por acenar com dilemas. "Dilemas, diferentemente de problemas, não têm solução", diz ele, "portanto, viva-se com eles." E continua: "A mulher executiva, principalmente a brasileira, enfrenta vários dilemas, e não somente relacionados com a dupla jornada ou com a gravidez: o dilema de quem precisa ser hard (masculino) sem deixar de ser soft (feminino), por exemplo; ou o que aponta para a difícil convivência entre o poder e a felicidade, que ronda as pessoas de sucesso, independentemente de sexo; ou o que trata das responsabilidades das mulheres em coibir o assédio sexual, nas empresas onde elas têm poder."Júlio Lobos identificou, em primeiro lugar, que a maior parte da população executiva feminina, no Brasil, tem menos de 40% (66%). Outras constatações da pesquisa são de que as brasileiras: valorizam prioritariamente as recompensas existenciais do cargo (o desafio, a realização, o ambiente) querem se sentir, e se sentem, reconhecidas no emprego são pessimistas ou indiferentes quanto à possibilidade de chegarem a ser CEOs acham que a mulher executiva recebe tratamento igual aos homens em posição idêntica descartam o assédio sexual como assunto de interesse COMPARAÇÃO COM PAÍSES DESENVOLVIDOS DINHEIRO Chama atenção o fato de que 90% das mulheres executivas, no mundo chamado desenvolvido, são motivadas pelo dinheiro, na carreira profissional; o índice no Brasil é de 60,6%. O dado complementar que explica essa distância pode ser este: no mundo desenvolvido, apenas 69% das mulheres apreciam o trabalho pelo desafio em si, enquanto que no Brasil este índice salta para 93,8%. Mas Lobos considera que há uma outra ponderação a ser feita, em relação a este assunto: "A mulher brasileira não tem muitas expectativas em termos de dinheiro". O que, de certa maneira, é ratificado por uma pesquisa do Grupo Catho que mostra que 74% das mulheres estão satisfeitas com a remuneração que percebem. E, ainda, uma outra pesquisa do Grupo Catho confirma a situação identificada pelo professor Lobos: entre nove quesitos, a remuneração para o executivo brasileiro ocupa apenas o terceiro lugar no ranking, perdendo para perspectivas de progresso na empresa e para o clima organizacional. SATISFAÇÃO Não é de estranhar, pois, que a brasileira tenha no trabalho fontes de satisfação existenciais, enquanto que no mundo desenvolvido são as fontes materiais. Ou seja, mais do que dinheiro, status, fringe benefits e poder, capturam a atenção da mulher executiva brasileira a qualidade do ambiente de trabalho, o desafio do trabalho em si e, possivelmente acima de tudo isso, a oportunidade de estabelecer relações com outras pessoas. De acordo com a interpretação de Júlio Lobos, a constatação remete a uma postura cultural originada da própria visão filosófico-religiosa. "Países com predominância da formação calvinista, como é o caso daqueles de língua inglesa e alemã, consideram o dinheiro como uma alternativa para adquirir melhor qualidade de vida. Nos países católicos, a visão é distinta, porque há o conceito de que o dinheiro está vinculado ao mal, ao pecado. Isto talvez explique parte da diferença entre as mulheres executivas brasileiras e das mulheres executivas de outros países." RECONHECIMENTO Em relação ao reconhecimento que sente no trabalho, a brasileira considera alto o índice, enquanto que no mundo desenvolvido as mulheres lhe conferem um índice baixo. O que talvez seja explicado pelo próprio fato de que as expectativas de progresso, que a brasileira considera regulares, sejam consideradas baixas pela mulher executiva dos países avançados. TRATAMENTO Também bastante diferente é a visão que a brasileira tem do tratamento que recebe no ambiente de trabalho (igual em tudo; para as outras o tratamento é diferente em tudo) e do assédio sexual (não considera assunto relevante; para as outras é assunto para ser discutido). SATISFAÇÃO, EXPECTATIVAS E CONDIÇÃO FEMININA EM LIVRO "A mulher executiva, no Brasil, é uma elite ímpar", garante Júlio Lobos, esclarecendo que o estudo que fez não representa um panorama da mulher brasileira, mas apenas da mulher executiva brasileira. É o que ele conseguiu registrar, ao editar em livro de agradável leitura e boas lições de atitudes profissionais, os depoimentos que obteve com a pesquisa. O livro "Mulheres que abrem passagem – e o que os homens têm a ver com isso" mostra que as mulheres executivas brasileiras ainda são poucas, mas constituem um grupo crescente. E que, em breve, na opinião de Júlio Lobos, poderão contribuir para modificar o estilo de comando nas empresas. "O estilo predominante, masculino, vem sendo paulatinamente questionado pelas empresas, que começam a buscar uma forma mais feminina de fazer a gestão de negócios e de pessoas. Um estilo mais diplomático, mais cooperativo, mais suave e menos truculento." Enfim, apesar de sofrerem ainda a histórica opressão masculina, pode estar nas mãos das mulheres mudar o mundo corporativo. (fonte: http://www.catho.com.br/)

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