"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

21 de fevereiro de 2011

RUTH GARCEZ

Ruth Garcez é uma das figuras femininas mais marcantes da História portuguesa do século XX, ou não fosse a primeira mulher juiz de Portugal. Porém, apesar da imponente carreira, admite que "ser a primeira mulher juiz portuguesa" não representou "uma meta" que se tivesse proposto "atingir ou cortar".
Para melhor entender o percurso profissional da juiz, temos de recuar no tempo: Ruth Garcez nasceu em 1934 na cidade de Lourenço Marques, actual Maputo (Moçambique). A ligação aos tribunais vem de 1956, ano em que se licenciou em Direito pela Universidade de Coimbra.
Ruth Garcez recorda bem as datas que contribuiram para aquilo que é hoje: "Entrei na Magistratura Judicial em 1977, fui Juiz de Direito até 1993 e Juiz Desembargadora a partir desse ano até jubilar em 2005, por limite de idade". Em Portugal, foi a primeira mulher a deter o poder judicial, quer na primeira quer na segunda instância. A opção de Ruth Garcez pelo mundo do Direito assentou num "enorme sentido de responsabilidade e uma actuação permanente no sentido de credibilizar a Justiça e dignificar a mulher no exercício do respectivo poder".Mesmo ao desempenhar um papel tão distinto numa sociedade que na época era profundamente patriarcal, "o mundo dos homens" nunca lhe fez "mossa", não entrando "em competição com nenhum deles". Reconhece que lhes deve o muito que aprendeu. Conta mesmo um episódio em que o então presidente do Tribunal da Relação de Lisboa lhe disse que a considerava "um par, ao lado e ao mesmo nível que os restantes pares machos".
Apesar dos muitos casos que lhe passaram pelas mãos ao longo de 28 anos de judiciado, Ruth considera que não existiu nenhum caso judicial que fosse mais importante do que os restantes, pois "cada caso é um caso, com maior ou menor complexidade, não há duas pessoas iguais, pelo que na área criminal há que isto em consideração para que a justiça se faça".
Ruth Garcez é uma cidadã atenta ao mundo que a rodeia, como tal, aproveita a disponibilidade que a jubilação lhe confere e gosto pela escrita para comentar os grandes assuntos da atualidade. (Texto de Filipa Castro Reis)

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