"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

4 de agosto de 2008

AS MULHERES GANHARAM VOZ (FLÁVIA FONTES)

AS MULHERES GANHARAM VOZ, CONQUISTARAM O MERCADO, ASSUMIRAM SEUS DESTINOS E AGORA COMEÇAM A DIVIDIR COM SEUS COMPANHEIROS AS TAREFAS DA CASA E CRIAÇÃO DOS FILHOS. É O MOMENTO DE SER CUIDADA PARA CUIDAR DE SI MESMA E ASSIM CUIDAR MELHOR DO MUNDO A SUA VOLTA.


As mulheres estão na ordem do dia. Nunca se falou ou estudou tanto sobre seu comportamento, seu nível escolar, seu desempenho no trabalho, sua renda. Desde a Segunda Guerra Mundial, uma série de barreiras profissionais foram derrubadas, e a busca pela igualdade em relação aos homens está alcançando – ainda que de modo lento – diversas esferas. Em meio a tantas conquistas, as mulheres chegam ao século XXI com mais um desafio: saber como e quando dividir os cuidados dos filhos e da casa com os parceiros.
“Não é uma passagem tranqüila”, afirma Maria Izilda Matos, professora e coordenadora do NEM PUC/SP (núcleo de Estudos da Mulher). Segundo a coordenadora, o cuidado com os filhos, a casa e a alimentação ainda está muito relacionado às mulheres. Nesse caso, o fator histórico ainda é determinante na separação das funções. Maria Izilda Matos diz que a história ocidental foi cionstituída a partir do patriarcado, que destinou aos homens o espaço do público e reservou às mulheres o espaço do privado, o espaço do cuidado da casa, dos filhos, da procriação.
MERCADO DE TRABALHO
A divisão imposta pelo modo de vida patriarcal foi, durante muitos séculos, bem preservada. Dificilmente uma mulher conseguia exercer qualquer profissão além das destinadas ao cuidado da casa e da família. Algumas precisaram se disfarçar com nomes masculinos: é o caso da escritora inglesa Mary Ann Evans (1819-1880), que, apesar de sua grande importância na literatura , ficou conhecida mundialmente pelo nome de George Eliot. Escritor também era profissão de homem.Com a industrialização e a urbanização, quando as mulheres passaram a trabalhar como operárias nas fábricas, esse quadro começou a se transformar. Contudo, foi no século XX, a partir da Segunda Guerra Mundial, que a participação das mulheres no mercado de trabalho foi crescente e acelerada, dentro e fora do Brasil.
Hoje, muitas mulheres são principais responsáveis pelo sustento da casa no Brasil. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2004, 29,4% das famílias brasileiras eram chefiadas por mulheres. A transformação não foi a apenas no trabalho. As mulheres também estudam mais: ainda segundo dados do IBGE, 30% da população feminina conclui o Ensino Médio, enquanto 20% dos homens consegue o mesmo.Se a conquista do espaço público foi rápida para as mulheres, principalmente nos últimos 30 anos, os homens ainda não dividiram completamente as tarefas do espaço privado. “Apesar da entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, a organização da casa e o cuidado com os filhos ainda são funções femininas”, diz Maria Izilda Matos. “alguns homens são pais muito atuantes, mas é um trabalho ainda visto como uma concessão. O trabalho doméstico é invisível, desvalorizado”, afirma a professora. Mas uma casa descuidada incomoda, cria tensão.
Nesse emaranhado das relações humanas, a parceria parece a melhor resposta para um tempo mais equilibrado. Porém quando se fala em dividir funções, enfrentar o preconceito é outra questão fundamental. Preconceitos de ambos os lados, masculinos e femininos. Muitos homens acham que ainda não é tarefa deles cuidar da casa ou dos filhos; as mulheres, em muitos casos, olham os homens como desajeitados e não os deixam participar das tarefas da casa.
“Reconstituir, reconstruir e partilhar” são os desafios apontados por Maria Izilda para as mulheres neste novo século. E ela completa a lista: “buscar um tempo para elas mesmas; conseguir delegar funções em casa; partilhar mais; ter relações menos hierarquizadas”.
A hora é de cuidar do outro, sem deixar de cuidar de si mesma e se deixar ser cuidada também.
(Texto de Flávia Fontes)

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