"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

19 de março de 2009

ELINA JÚLIA CHAVES PEREIRA GUIMARÃES DA PALMA CARLOS

Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães da Palma Carlos, nascida em Lisboa em 8 de Agosto de 1904 e filha única de Alice Pereira Guimarães e de Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães (militar e republicano convicto), herdou de seu pai o mesmo espírito entusiasta e combativo. Ou seja, desde muito cedo demonstrou interesse pelas conversas de foro político bem como, pela defesa dos direitos das mulheres. Por essa razão, Afonso Costa denominou-a como sendo a “mulher do futuro” .Acreditando sempre na capacidade intelectual das mulheres e na necessidade de lutar pela igualdade de direitos e oportunidades entre ambos os sexos, realizou os seus primeiros estudos em casa, frequentou os Liceus Almeida Garrett e Passos Manuel e, em 25 de Novembro de 1926, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, com a classificação de 18 valores. A sua entrada oficial no movimento feminista, esteve manifestamente relacionado com um artigo publicado, em 1925, enquanto estudante universitária no jornal intitulado Vida Académica. Basicamente, contestava a publicação de O Terceiro Sexo de Júlio Dantas pelo facto deste referir-se, sarcasticamente, ás mulheres que estudavam e pensavam. Esta ousadia permitiu-lhe o ingresso no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP) a convite de Adelaide Cabete, posteriormente desempenhou as funções de Secretária – Geral (1927), Vice - Presidente da Direcção (1928 – 1929, 1931) e Vice – Presidente da Assembleia Geral (1946). Em 1928, juntamente com Angélica Lopes Porto e Sara Leitão, elaboraram um plano de conferências feministas e, com Maria Amélia Matos e Tetralda Teixeira de Lemos, efectuaram uma revisão dos Estatutos. Contudo, era nas questões relacionadas com a sua formação académica: legislação, sufrágio, jurídica e de propaganda que Elina dava cartas, daí ter-lhe sido atribuído um voto de louvor pelo seu brilhante artigo que publicou no jornal O Rebate, onde criticava a lei eleitoral que não reconhecia o direito de voto à mulher. Para além disso, apresentou teses como: “A protecção à mulher trabalhadora” e “Da situação da mulher profissional no casamento” porque não somente defendia a participação política da mulher como forma de intervenção na sociedade, como exigia o direito a uma educação igualitária como forma de assegurar a mesma preparação profissional e a mesma liberdade de trabalho que ao sexo oposto.Sendo que a educação e a protecção à infância é outra das causas defendidas, aderiu aos protestos junto do Ministro da Instrução, contra a supressão da coeducação no ensino primário e reivindicou pela educação cívica e moral, demonstrando um pouco o seu lado maternalista, “(...) é necessário que as mulheres da nossa terra mais do que nunca se consagrem a essa obra tão linda e de tão vasto alcance que é a protecção à infância”.Posteriormente, devido à partida de Adelaide Cabete para Angola, assumiu a direcção da revista Alma Feminina, entre 1929 e 1930 e também foi responsável pela “Página Feminista” na revista Portugal Feminino, onde sintetiza o pensamento e acção feministas.Ao aperceber-se do poder que tinha a imprensa, começou a redigir artigos de carácter educativo, feminista e jurídico, procurando esclarecer os equívocos conceptuais associados ao feminismo com o objectivo de desmistificá-lo (“O princípio básico do feminismo é a igualdade, ou antes, a equivalência moral, intelectual e social dos dois sexos (...)”, “(...) sustenta o valor da mulher como ser humano e (...) pretende melhorar a sua situação social de forma a garantir-lhe o pleno desenvolvimento da sua personalidade e o pleno exercício da mesma”. ) e divulgar a problemática da condição feminina e os direitos das mulheres, isto porque enquanto feminista, e citando as suas palavras, sabia da necessidade de “captar os pensamentos e anseios da mulher comum”. Ou seja, chamá-las à razão para que não se deixassem intimidar pelos homens e serem capazes de lutar, com igual garra pelos seus interesses.Apesar de ter consciência plena de que em Portugal, ao contrário do que se passava no estrangeiro, o sentido do feminismo ainda não era socialmente aceite, inspirada pelas Associações Internacionais Feministas que dá a conhecer, não se deixa abalar e é peremptória ao afirmar: “(...) espero vir a convencer aquelas que me lerem que o feminismo, longe de ser uma aberração subversiva, é uma doutrina altamente moralizadora e altruísta, que só visa a elevar a mulher tornando-a assim mais apta a contribuir para a felicidade humana”. Elina através da sua escrita teve um papel dinamizador e preponderante na difusão dos ideais feministas e poder-se-á de facto caracterizá-la como “a mulher do futuro” porque lutou pelas suas convicções de forma aguerrida e entusiasta.
(fonte Net)

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