"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

22 de março de 2009

LIGIA CLARK

Lygia Clark - A arte como interatividade & participação
Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte, 1920 e faleceu no Rio de Janeiro, 1988. Escultora, pintora, desenhista e psicoterapeuta, começou a estudar artes plásticas com Roberto Burle Marx em 1947. Em 1950, foi à Paris, onde estudou com Fernand Léger. Em 1952, fez sua primeira exposição, na Galeria Endoplastique. Neste ano, voltou ao Brasil e expôs no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, recebendo o prêmio "Augusto Frederico Schmidt" e sendo considerada revelação artística do ano pelos críticos.Aproximou-se de Ivan Serpa, com o qual dividiu uma exposição em 1953, em São Luís (MA), e fundou o Grupo Frente, que reunia artistas concretos, em sua maioria, mas também era aberto à participação da arte naïf e infantil. O Grupo era formado por alunos de Serpa e outros artistas como Lygia Pape, Aluísio Carvão e Décio Vieira, Abraham Palatnik, Elisa Martins da Silveira e por Carlos Val. O trabalho de Lygia Clark, a partir de então, foi revolucionário em três aspectos. Primeiramente, ele se caracterizou por experiências de exploração tempo-espaciais reformulando os conceitos clássicos do espaço da obra de arte. Entre 1954/58 inaugurou as chamadas "superfícies moduladas", em que a artista rompe com a superfície do quadro e com a moldura, trazendo para a responsabilidade do artista também a construção do espaço de criação. Clark gerou também novos espaços de criação, feitos a partir de maquetes, com placas cortadas formando superfícies curvas sobre uma base em forma de losangos, que a artista deu o nome de "ovos" e "casulos".
Em segundo lugar, Lygia Clark e outros artistas e amigos como Helio Oiticica reformularam o papel do espectador que, de agente passivo, se tornou parte integrante e co-autor das obras. Assim, em 1960, ela criou obras que podiam ser alteradas pelo espectador. Eram chapas de metal articuladas por dobradiças, que a artista chamou de Bichos e que assumiam formas diferentes após a manipulação para a qual os espectadores eram agora (ao invés de proibidos) convidados. Essas obras são revolucionárias, pois foi a primeira vez que o público podia modificar uma obra de arte, quebrando com os conceitos de aura, sacralidade e autoria única, solidificados desde o Renascimento. Em 1956/57, Lygia Clark participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta, mostra que reuniu artistas concretos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na ocasião, ficou evidenciado que as obras de Clark estavam rompendo com os padrões da arte moderna, levando as discussões para o plano da fenomenologia. Suas obras, assim como as de Hélio Oiticica, geraram novas teorias que levaram Ferreira Gullar a desenvolver a "Teoria do Não-Objeto". Em 1957, a artista foi premiada na IV Bienal de São Paulo. Clark expôs na Bienal de Veneza em 1960, 62 e 68, e em Nova Iorque em 1963. Teve uma Sala Especial na Bienal de São Paulo de 1963. Em 1966, expôs pela primeira vez seus Trepantes, obras também manipuláveis pelo público, feitas com borracha, plástico, caixas de fósforo e papelão, materiais novos do mundo industrial, integrados agora às artes plásticas. Ela lecionou na Sorbone, Paris, em 1971 e 1975.

Em terceiro lugar, a partir de 1968, Lygia passou a refletir sobre as questões do corpo, integrando o público com a obra de modo sensório, em trabalhos como A Casa é o Corpo (1968), o Corpo Coletivo (1974) e Roupa-corpo-roupa. Dessas experiências extraiu conceitos terapêuticos que criavam uma interface inédita entre arte e ciência. Em 1978, começou a fazer experiências de utilização das obras com fins terapêuticos individuais. Dizia na época que era mais psicóloga que artista, criando situações experimentais em grupo. O fio condutor desse fase da sua obra é a relação entre corpo humano e arte. Seus “objetos relacionais” são uma série de manipulações artísticas que ancoram sua obra no universo de uma arte construída a partir do espectador/paciente. O processo terapêutico se irradia nas duas direções: na cura do sujeito/paciente que participa do processo da obra e na emancipação da obra de arte do seu status de objeto/produto. Segundo ela própria, quando o objeto perde sua especificidade como mercadoria/produto/obra e adquire significado na sua relação com a estrutura psicológica do sujeito, então a arte acontece e a possibilidade de cura aparece.Obviamente, Lygia Clark foi polêmica durante toda a sua vida e a última fase da sua obra gerou inúmeras críticas por parte de artistas e psicólogos. Mas não é este o fascínio e a maldição dos pioneiros?



Obras de Lygia Clark
Fonte: Net

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