Narradas em primeira pessoa, as histórias exploram momentos em que homens e mulheres, famosos e anônimos, ricos e humildes, empreendedores e funcionários, artistas e religiosos, músicos e jornalistas tiveram que se reinventar para superar situações adversas na vida. Depoimentos de mudanças, reviravoltas e superações. “A psicologia chama essa capacidade de resiliência, curiosamente um termo que saiu da Física antes de se deitar nos divãs. São os grandes “saltos vitais”, que alguns são capazes de fazer e outros não”, diz a autora.
Em depoimentos francos, personagens conhecidos, como Elza Soares, Barbara Paz, Lily Marinho, Dorina Nowill, Chico César, Paulo Borges, Adriana Bombom, DJ Zé Pedro e Lucinha Araújo, dão testemunho no livro que também conta com relatos de pessoas anônimas, como o pedreiro Evandro dos Santos, que se alfabetizou aos 18 anos e fundou 37 bibliotecas pelo Brasil, e a economista Giuliana Marsiglia, que deixou uma rotina estressante no mercado financeiro para administrar uma pousada no litoral e viver com um pescador. Personalidades populares como Rita Cadillac, a ex-chacrete que durante anos subiu voluntariamente no palco do Carandiru, dividem experiências com personagens eruditos como o pianista João Carlos Martins, que se tornou regente após inúmeros acidentes com as mãos.
Baianos e personagens da Bahia, ao todo seis, participam de Recomeços. A ialorixá Mãe Carmen revela como superou a resistência de substituir Mãe Menininha no comando do Terreiro do Gantois. Maria Rita Pontes relembra a difícil decisão de mudar de cidade, e especialmente o estilo de vida, para assumir o lugar da tia na direção das Obras Sociais Irmã Dulce, que hoje representa, segundo o Ministério da Saúde, a maior entidade filantrópica do país. O antropólogo Luis Mott revela o conflito vivenciado com mulher e duas filhas até assumir a homossexualidade. A jornalista Aleksandra Pinheiro, sobrevivente de um câncer de rim que culminou em três anos de hemodiálise e um bem-sucedido transplante renal, e Geraldo Silva Júnior, pai do único baiano morto no acidente do vôo 3054 da TAM, partilham a experiência de desafiar tragédias e sentenças condenatórias.
“Recomeços não é um livro de autoajuda”, ressalta a autora. “O que eu queria era poder contar histórias que pudessem inspirar outras pessoas que também estivessem passando por momentos difíceis de mudanças ou rupturas. Cada um sabe o tamanho da sua dor e a disposição de superá-la. Nem sempre se supera. Em alguns casos, como o de Lucinha Araújo, mesmo a dor não saindo do peito, tem enorme poder mobilizador”.
Lina confessa que, inicialmente, relutou para aceitar o convite do editor e jornalista Luís Colombini. “A idéia não foi minha; a resistência, sim”, conta a autora que também teve de lidar com a perda da família em um acidente automobilístico. As entrevistas, coletadas ao longo de quase dois anos, tornaram-se relatos pungentes que mostram como situações de crise podem ser transformadas em oportunidade de crescimento, um exercício diário de reafirmação da vida.
Sobre a autora
Jornalista, Lina de Albuquerque formou-se na PUC-SP e cursou, sem terminar, Filosofia e o mestrado em Antropologia, ambos na USP. Trabalhou nas redações da revista Veja e dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Foi subeditora da revista Isto É e editora de reportagem da revista Marie Claire, onde ganhou o primeiro Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, com a reportagem “A Dança das Severinas”. Continua colaborando com Marie Claire, além das revistas Claudia e do jornal Valor Econômico. Lina ainda é letrista de músicos como Fernanda Porto, e criou, com o parceiro Gedley Braga, um projeto de composições na internet batizado de Lavadeiras (myspace.com/lavadeiras), que será lançado no final do ano na voz da cantora carioca Helena Cutter (myspace.com/lavadeirashelenacutter).
Fonte:http://ibahia.globo.com/revistacultural/noticia/default.asp?codigo=206972
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