"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

24 de fevereiro de 2008

IVANILDE BRUNOW

IVANILDE BRUNOW- 1945

Observadora e aprendiz por vocação, não deixou passar nenhuma oportunidade de aprender, e, em suas declarações de hoje, sente-se que guardou exatamente o melhor de sua experiência.
Falo em paisagens contestatórias, pois nestes conjuntos paisagísticos, nos quais se infiltram objetos por vezes estranhos e inexplicáveis, há sempre um clima de protesto contra o puramente natural, o artista se afirmando recriador diante das coisas já feitas. Em nenhum momento há passividade, seja no dinamismo da cor, seja na perspectiva incomum com que as coisas se projetam no espaço, e esta sensação de luz que vem de dentro do quadro, numa relação nitidamente feérica com o espectador.
Ivanilde Brunow é uma artista madura, pronta para conferir ao Espírito Santo mais uma figura de porte nacional dentro da arte. Notável, ainda, a transfiguração da matéria, que a artista obtém com perícia instrumental, magnetizando o olhar do espectador antes da leitura incomum de sua figuração, cujos elementos parecem estar sendo sempre arrebatados num luminoso pesadelo.
Vale registrar o luxo da natureza, a cintilação do céu, o faiscar das superfícies, a sabedoria com que Ivanilde equilibra elementos palpitantes, com pequenas áreas de um monocromismo sensibilizado, tudo relevando que cada instante, cada toque, é absolutamente intencional e urgente. Estamos diante de uma pintora de grandes recursos, e de muita garra. Seu mundo instala o primado da imaginação sobre o que nos rodeia, e só a imaginação restaura no mais fundo do ser o interesse real pela vida".

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