"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

30 de abril de 2008

RAINHA VASTI


No terceiro ano de Assuero que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias, do seu trono na cidadela de Susã, deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, no qual se representou o escol da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes das províncias estavam perante ele.

Então, mostrou as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, por cento e oitenta dias. Passados esses dias, deu o rei um banquete a todo o povo que se achava na cidadela de Susã, tanto para os maiores como para os menores, por sete dias, no pátio do jardim do palácio real. Havia tecido branco, linho fino e estofas de púrpura atados com cordões de linho e de púrpura a argolas de prata e a colunas de alabastro. A armação dos leitos era de ouro e de prata, sobre um pavimento de pórfiro, de mármore, de alabastro e de pedras preciosas. Dava-se-lhes de beber em taças de ouro, de várias espécies, e havia muito vinho real, graças à generosidade do rei.
Bebiam sem constrangimento, como estava prescrito, pois o rei havia ordenado a todos os oficiais da sua casa que fizessem segundo a vontade de cada um. Também a rainha Vasti deu um banquete às mulheres na casa real do rei Assuero.
Ao sétimo dia, estando já o coração do rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e Carcas, os sete eunucos que serviam na presença do rei Assuero, que introduzissem à presença do rei a rainha Vasti, com a coroa real, para mostrar aos povos e aos príncipes a formosura dela, pois era em extremo formosa. Porém a rainha Vasti recusou vir por intermédio dos eunucos, segundo a palavra do rei; pelo que o rei muito se enfureceu e se inflamou de ira. Então, o rei consultou os sábios que entendiam dos tempos (porque assim se tratavam os interesses do rei na presença de todos os que sabiam a lei e o direito; e os mais chegados a ele eram: Carsena, Setar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucã, os sete príncipes dos persas e dos medos, que se avistavam pessoalmente com o rei e se assentavam como principais no reino) sobre o que se devia fazer, segundo a lei, à rainha Vasti, por não haver ela cumprido o mandado do rei Assuero, por intermédio dos eunucos. Então, disse Memucã na presença do rei e dos príncipes: A rainha Vasti não somente ofendeu ao rei, mas também a todos os príncipes e a todos os povos que há em todas as províncias do rei Assuero porque a notícia do que fez a rainha chegará a todas as mulheres, de modo que desprezarão a seu marido, quando ouvirem dizer: Mandou o rei Assuero que introduzissem à sua presença a rainha Vasti, porém ela não foi. Hoje mesmo, as princesas da Pérsia e da Média, ao ouvirem o que fez a rainha, dirão o mesmo a todos os príncipes do rei; e haverá daí muito desprezo e indignação. Se bem parecer ao rei, promulgue de sua parte um edito real, e que se inscreva nas leis dos persas e dos medos e não se revogue, que Vasti não entre jamais na presença do rei Assuero; e o rei dê o reino dela a outra que seja melhor do que ela.
Quando for ouvido o mandado, que o rei decretar em todo o seu reino, vasto que é, todas as mulheres darão honra a seu marido, tanto ao mais importante como ao menos importante.
O conselho pareceu bem tanto ao rei como aos príncipes; e fez o rei segundo a palavra de Memucã. Então, enviou cartas a todas as províncias do rei, a cada província segundo o seu modo de escrever e a cada povo segundo a sua língua: que cada homem fosse senhor em sua casa, e que se falasse a língua do seu povo.
O rei Assuero é também chamado de rei "Longímano" Artaxerxes da Pérsia, reino que começava nas proximidades da Índia e terminava onde, atualmente, se encontra o Sudão, na África. Ele gostava de passar o tempo com os amigos, de beber vinho e da sua esposa, muito atraente, a qual era descendente de uma das sete famílias de sangue azul da Pérsia.
No terceiro ano de seu governo, no ano 483 a.C., durante seis meses, ele fez uma reunião para exibir o palácio de inverno em Susa aos vassalos de suas 127 províncias. Para coroar o encerramento da reunião, ele armou uma tenda para servir um banquete para 10 mil pessoas. Depois de uma semana de festas, o rei teve a idéia de exibir a esposa e enviou um de seus eunucos para dar o recado para Vasti. Porém, a rainha tinha os seus propósitos e se sentiu ofendida de ter que ser exibida na frente dos vassalos do rei. Além disto, ela era apoiada pela lei persa que considerava tabu mesmo uma olhada de relance de um estranho para a mulher de alguém.
A recusa dela não foi aceita pela rei facilmente, porém ela não se dobrou diante da ordem do Longímano e continuou no banquete dos seus aposentos com as amigas. Os sábios do reino, preocupados mais com o papel da rainha do que com o sentimentos do rei, mandaram divulgar em todo o reino que, daquela data em diante, todas as mulheres deveriam tratar seus maridos como seus superiores. O decreto machista que alcançava quase toda a população feminina da época mandava: "Que todo marido fosse chefe da sua casa e que tivesse sempre a última palavra."(Ester, 1.22)
Vasti, recusando-se a ser uma mera mulher objeto, foi banida da presença do rei e Ester assumiu seu lugar. Ela perdeu a coroa e o marido, no entanto não perdeu a dignidade.

Fonte:http://www.avesso.net/

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