"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"
Florbela Espanca

16 de junho de 2011

KATHERINE MANSFIELD

Katherine Mansfield, pseudônimo de Kathleen Mansfield Beauchamp (Wellington, Nova Zelândia; 14 de outubro de 1888 - Fontainebleau, França, 9 de janeiro de 1923) foi uma proeminente escritora neozelandesa de estórias curtas.
"O prazer de ler é dobrado quando se vive com alguém com quem se compartilha os mesmos livros. — Katherine Mansfield"
Mansfield nasceu Kathleen Mansfield Beauchamp em uma família socialmente proeminente em Wellington, Nova Zelândia. Filha de um banqueiro e nascida em família colonial de classe média, também era prima da autora Condessa Elizabeth von Arnim. Mansfield teve uma infância solitária e alienada. Suas primeiras estórias publicadas apareceram no High School Reporter e na revista do Colégio para garotas de Wellington, em 1898 e 1899. Mudou-se para Londres em 1902, onde freqüentou o Queen's College. Violoncelista de talento, inicialmente não se sentiu atraída pela literatura e, após concluir sua educação na [[Inglaterra], voltou para a Nova Zelândia em 1906. Foi somente depois desse retorno que Kathleen Beauchamp começou a escrever contos. Cansada do estilo de vida provinciano da Nova Zelândia da época, Beauchamp retornou a Londres dois anos mais tarde, em 1908.
Ao retornar para Londres em 1908, logo se entregou à vida boêmia/bissexual comum a muitos artistas e escritores da época.[1] Com pouco dinheiro, conheceu, casou-se e separou-se de seu primeiro marido, George Bowden, tudo em período de três semanas. Por volta dessa época, Mansfield ficou grávida de um amigo da família da Nova Zelândia, Garnet Trowell, um violonista profissional, e sua mãe a mandou para a Baviera.[2]
Katherine perdeu seu bebê em 1909, provavelmente por ter levantado seu baú de cima de seu guarda-roupa. No retorno à Inglaterra, seu trabalho chamou a atenção de várias editoras e Beauchamp adotou o nome artístico de Katherine Mansfield quando da publicação de sua primeira coleção de contos, In a German Pension (numa pensão alemã), em 1911. Contraiu gonorréia por volta desta época, um evento que a faria sofrer com dores de artrite pelo resto de sua curta vida, bem como enxergar-se como uma mulher "suja"
Desencorajada pela falta de sucesso do livro, Mansfield mandou uma estória leve para uma revista avant-garde nova chamada Rhythm (Rítmo). A estória foi rejeitada pelo editor John Middleton Murry, que pediu algo mais sombrio. Mansfield respondeu com "The Woman at the Store" (a mulher na loja), uma estória de assassinato e doença mental que Murry chamou de "de longe a melhor estória mandada à Rhythm." Em 1912 Murry visitou Mansfield no seu apartamento onde ela lhe serviu chá em tigelas porque não possuía xícaras. Visitantes frequentemente a encontravam vestida num kimono. Mansfield, atraída por ele, o convidou a se mudar para o quarto de hóspedes logo após sua publicação, e logo em seguida eles começaram seu relacionamento conturbado que incluíu casamento em 1918. Eles se mudaram diversas vezes e frequentemente viveram separados. Aparentemente ambos não acreditavam em uniões estáveis, e Mansfield pode ter se arrependido de seu estilo de casamento. Sua amiga próxima, Ida Baker, frequentemente cuidava dela quando estavam separados.
Sua vida e trabalho seriam modificados para sempre com a morte de seu irmão, um soldado, durante a Primeira Guerra Mundial. Ela ficou chocada e traumatizada pela experiência, tanto que seu trabalho começou a se refugiar nas lembranças nostálgicas de sua infância na Nova Zelândia.[3] Durante esses anos ela também teve amizades profissionais com escritores como D. H. Lawrence e Virginia Woolf, que posteriormente disse que a escrita dela era 'A única escrita que eu invejei'.
Embora continuasse escrevendo entre sua primeira e segunada coleções ("Prelude", 1918), raramente publicou seus trabalhos, e entrou em depressão clínica. Sua saúde ficou muito debilitada após um ataque quase fatal de pleurisia quando contraiu tuberculose em 1917. Foi enquanto combatia essa doença em spas pela Europa afora, sofrendo uma hemorragia séria em 1918, que Mansfield começou a escrever os trabalhos pelos quais ela seria melhor conhecida.
"Miss Brill," uma estória sobre uma mulher frágil vivendo uma vida efêmera de observação e prazeres simples em Paris, estabeleceu Mansfield como um dos escritores modernistas preeminentes, quando da sua publicação em 1920 na coleção "Bliss". A estória título dessa coleção "Bliss" (felicidade), que envolvia uma personagem semelhante enfrentando a infidelidade de seu marido, também recebeu crítica favorável. Ela seguiu com a coleção igualmente louvada , The Garden Party, publicada em 1922.
Mansfield passou seus últimos anos buscando curas cada vez mais não ortodoxas para sua tiberculose. Em fevereiro de 1922, ela consultou o médico russo Ivan Manoukhin. Seu tratamento "revolucionário", que consistia em bombardear seu baço com raios-X, fez com que Mansfield desenvolvesse calores e insensibilidade nas pernas.
Nos últimos anos de sua vida ela passou a sentir que sua atitude perante a vida havia sido exageradamente rebelde e procurou renovar sua vida espiritual. Em outubro de 1922, Mansfield mudou-se para o
Instituto para o Desenvolvimento Harmonioso do Homem de Georges Gurdjieff em Fontainebleau, França, onde esteve sob os cuidados de Olgivanna Lazovitch Hinzenburg (posteriormente, Sra. Frank Lloyd Wright). Mansfield sofreu uma hemorragia pulmonar fatal em janeiro de 1923, após subir uma escada correndo para mostrar a Murry quão bem estava.[4] Foi enterrada em um cemitério no distrito de Fontainebleau District na cidade de Avon.
Mansfield provou ser uma escritora prolífica nos últimos anos de sua vida, e uma boa parte de sua prosa e poesia não foram publicadas até depois de sua morte. Murry se predispôs a editar e publicar seus trabalhos.
Seus esforços resultaram em dois volumes adicionais de contos em 1923 (The Dove's Nest) e em 1924 (Something Childish), bem como seus Poems, The Aloe, uma coleção de escritos críticos (Novels and Novelists) e um número de edições de trabalhos previamente não publicados de suas cartas e diários.

Poucas foram as traduções de sua obra no Brasil. A partir de 1992, a editora Revan começou a traduzi-las. Hoje, temos em português os principais dos 88 contos de Mansfield, incluindo Prelude (Prelúdio), At the bay (Na praia ) e The doll’s house (A casa de bonecas). Estes três contos fazem parte de uma novela inacabada. Demonstram a transição da obra de Katherine Mansfield para o romance. Os personagens, baseados na sua vida na terra natal, pedem mais que uma novela. Várias são as tramas e a saída só poderia ser encontrada na estrutura de um belo romance cuja semelhança poderíamos enxergar na obra de Virginia Woolf, no livro To the lighthouse (Passeio ao farol). O inverso também poderia ser dito, To the lighthouse possui a atmosfera de alguns contos de Mansfield. Elementos da natureza, a vida íntima de um casal e suas crianças são influências recíprocas entre autoras que tiveram contato intenso. No entanto, Katherine Mansfield nunca escreveu um romance.
Trabalhos
Coleções:
In a German Pension (1911), ISBN 1-86941-014-9
The Garden Party: and Other Stories (1922), ISBN 1-86941-016-5
The Doves' Nest: and Other Stories (1923), ISBN 1-86941-017-3
Bliss: and Other Stories (1923)
Poems (1923), ISBN 0-19-558199-7
Something Childish (1924), ISBN 1-86941-018-1, first published in the U.S. as The Little Girl
The Journal of Katherine Mansfield (1927, 1954), ISBN 0-88001-023-1
The Letters of Katherine Mansfield (2 vols., 1928-29)
The Aloe (1930), ISBN 0-86068-520-9
Novels and Novelists (1930), ISBN 0-403-02290-8
The Short Stories of Katherine Mansfield (1937)
The Scrapbook of Katherine Mansfield (1939)
The Collected Stories of Katherine Mansfield (1945, 1974), ISBN 0-14-118368-3
Letters to John Middleton Murry, 1913-1922 (1951), ISBN 0-86068-945-X
The Urewera Notebook (1978), ISBN 0-19-558034-6
The Critical Writings of Katherine Mansfield (1987), ISBN 0-312-17514-0
The Collected Letters of Katherine Mansfield (4 vols., 1984-96)
Vol. 1, 1903-17,
ISBN 0-19-812613-1
Vol. 2, 1918-19,
ISBN 0-19-812614-X
Vol. 3, 1919-20,
ISBN 0-19-812615-8
Vol. 4, 1920-21,
ISBN 0-19-818532-4
The Katherine Mansfield Notebooks (2 vols., 1997), ISBN 0-8166-4236-2

Contos



"The Woman At The Store" (1912)
"
How Pearl Button Was Kidnapped" (1912)
"
Millie" (1913)
"
Something Childish But Very Natural" (1914)
"
The Little Governess" (1915)
"
Pictures" (1917)
"
Feuille d'Album" (1917)
"
A Dill Pickle" (1917)
"
Je ne parle pas français" (1917)
"
Prelude" (1918)
"
An Indiscreet Journey" (1920)
"
Bliss" (1920)
"
Miss Brill" (1920)
"
Psychology" (1920)
"
Sun and Moon" (1920)
"
The Wind Blows" (1920)
"
Mr Reginald Peacock's Day" (1920)
"
Marriage à la Mode" (1921)
"
The Voyage" (1921)
"
Her First Ball" (1921)
"
Mr and Mrs Dove" (1921)
"
Life of Ma Parker" (1921)
"
The Daughters of the Late Colonel" (1921)
"
The Stranger" (1921)
"
The Man Without a Temperament" (1921)
"
At The Bay" (1922)
"
The Fly" (1922)
"
The Garden Party" (1922)
"
A Cup of Tea" (1922)
"
The Doll's House" (1922)
"
A Married Man's Story" (1923)
"
The Canary"" (1923)
-------
_____
______
Agradeço a nossa Leitora Juliana pela indicação.
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Soneto a Katherine Mansfield
..
O teu perfume, amada – em tuas cartas
Renasce, azul... – são tuas mãos sentidas!
Relembro-as brancas, leves, fenecidas
Pendendo ao longo de corolas fartas.
Relembro-as, vou... nas terras percorridas
Torno a aspirá-lo, aqui e ali despertoParo;
e tão perto sinto-te, tão perto
Como se numa foram duas vidas.
Pranto, tão pouca dor! tanto quisera
Tanto rever-te, tanto! ... e a primavera
Vem já tão próxima! ... (Nunca te apartas
Primavera, dos sonhos e das preces!)
E no perfume preso em tuas cartas
À primavera surges e esvaneces.
..

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